sábado, 14 de fevereiro de 2009

ENCONTRO III

22 de Janeiro de 2008

9. Abertura
  • a. Definir tempo e espaço. Precisaremos de um berimbau.
  • b. Retomar as palavras.
10. Retorno das tarefas
  • a. Aquecimento
  • b. Tarefas
  • c. Dinâmica Cicatriz
  • i. Qual a história da sua cicatriz?
  • ii. Você gostaria de apagá-la?
  • iii. Essa cicatriz está curada?
  • iv. Leitura de trechos de textos + Berimbau
  • v. Fechamento.
11. Discussão sobre as propostas
  • a. Apresentação do esquema conceitual
12. Junção das propostas de interação.
13. Marcar ação conjunta.
14. Fazer Cronograma Geral.
  • a. Fev – Pesquisa
  • b. Mar – Ação
  • c. Abr – Apresentação
15. Fazer Cronograma Específico.
  • a. Encontro Semanal
  • b. Encontro Pontual
16. Tv Brasil

Relato:
Para pensarmos sobre o tema “Cicatriz”.

A princípio este tema me pareceu restrito para tratar do campo histórico a que se refere o projeto Afrofuturismo. A metáfora da cicatriz como uma ferida que uma vez foi aberta (passado) e hoje, fechada (presente), permanece no corpo como um índice da dor passada não traz a complexidade das relações históricas.

Mas ao olhar para o principal eixo de discussão do Afrofuturismo: afirmação da história oficial x apagamento das resistências podemos encontrar outros sentidos para o tema Cicatriz.

Uma entrevista feita pela Frente 3 de Fevereiro o ano passado com o Reginaldo Prandi (autor do livro “Mitologia dos Orixás”) dá alguns elementos para repensar a Cicatriz:

“ Então, mas a coisa mais importante na transformação dos diferentes africanos, em primeiro escravos e depois em negros americanos, foi a destruição da identidade. Identidade é a coisa mais importante que existe pra um africano, por uma razão extremamente simples: o tempo do africano é diferente do tempo do ocidental. Ou seja, o tempo do africano é circular, e tudo o que acontece já aconteceu e tudo o que acontece acontecerá. E nesse processo circular, a vida se organiza em renascimentos; aí então você tem a idéia da encarnação como um elemento fundamental. Por isso que o mito é importante; porque o mito conta o seu passado – por isso que é importante você saber qual que é seu Orixá: se você sabe qual é o seu Orixá você sabe qual é o seu passado remoto, desde ali as coisas apenas se repetem, o que permite a existência, por exemplo, do jogo de búzios. Mas, então o negro, pra ele reencarnar – o negro africano, não o negro brasileiro, no Brasil isso foi destruído – o africano ele reencarna só quando ele não é esquecido. A condição básica da reencarnação é não ser esquecido pela sua família; ou seja, quando você morre, você continua sendo tratado como alguém da família, né? Agora, como você trata alguém da família? Dando comida, dando bebida, essas coisas; por isso que você faz o sacrifício. O sacrifício nada mais é do que tratar o antepassado, o morto, como alguém da casa, alguém da família, que recebe tudo aquilo, não é? Então, depois de um certo tempo, que você é cultuado, coisa e tal, e você não é esquecido – e pra isso você tem que ter muitos filhos, quem se lembre de você – é que você reencarna na mesma família, que é uma família extensa, diferente da nossa família; uma família que reúne diferentes gerações, e filhos e sobrinhos e primos. Você reencarna ali e com isso você garante a sua eternidade (...). Agora, se você tira o indivíduo de uma família e apaga a família dele, quando ele morrer, o ciclo eterno dele deixa de ser possível; porque se ele não sabe quem é, se ele não tem uma família que o cultue, se ele está perdido na memória da sua gente, ele não pode reencarnar. Então isso pro escravo era a maior tragédia; tanto que eles inventaram uma coisa, que depois foi copiada pelo Candomblé, que são as marcas feitas com agulha. Então cada linhagem fazia a sua marca. Porque se cada criança ou se cada pessoa fosse roubada, fosse pedida como escravo, fosse levada embora, e se uma dia ela pudesse voltar, ela sabia pra onde voltar. Portanto ela reencontrava-se a si mesma, se reencontrava com sua identidade. Então por isso eles eram todos marcados: por medo de perder a identidade no processo escravista. Isso era absolutamente decisivo.”

A partir desta perspectiva elaboramos uma dinâmica de entrevista sobre o tema para o encontro com o Ponto de Cultura Amorim Rima/CEACA – um teste para saber para onde caminharia o desenvolvimento deste tema. As perguntas-chaves eram:

i. Qual a história da sua cicatriz?
ii. Você gostaria de apagá-la?

Entre cada resposta tínhamos leitura de trechos de textos e o acompanhamento com berimbau, atabaque, pandeiro e ganza.


Nenhum comentário:

Postar um comentário